sexta-feira, fevereiro 06, 2004
18:07 |
(como diria a Nana... se n�o gosta, n�o leia) Rosas Mudas Uma hist�ria de amor em tempos dif�ceis Eu sempre fui contra a domina��o dos EUA, e dizia isso para quem quisesse ouvir. Por mais de uma vez fui pego pichando os muros do McDonalds ou queimando bonecos do Bush em pra�a p�blica. Por esse fanatismo eu era alvo de piadas dos amigos e de um pouco de preconceito por desconhecidos. At� que um dia, numa roda de amigos onde discut�amos sobre a guerra no Iraque, um amigo brincando falou: - E voc� Fred? Se voc� � assim t�o fan�tico contra a guerra, por que n�o se junta com aqueles malucos que foram pra l� como escudo humano? Todos riram, � claro, da id�ia absurda dele, por�m aquela noite, n�o consegui dormir. Suas palavras ecoavam na minha cabe�a e eu me sentia um covarde. Levantei-me e fui para o computador. Passei aquela noite acordado, navegando na Internet. Aproveitei o dia seguinte para continuar minhas pesquisas, fazer alguns telefonemas e concretizar os meus mais importantes contatos. Na noite seguinte, j� estava decidido e fui � faculdade contar para os meus amigos minha decis�o: - Galera, voc�s riram ontem, mas eu decidi. Preciso participar dessa guerra tamb�m, do que adianta s� falar e n�o agir? Por isso eu decidi, Semana que vem estou partindo para o Iraque! - O que? T� maluco? S� pode ser brincadeira! � todos responderam numa mistura de risadas e desconfian�a. Expliquei toda a hist�ria, desde que havia ouvido a brincadeira, minhas pesquisas na Internet e minhas liga��es para a Uni�o Brasileira de Jovens Socialistas, de sede em S�o Paulo, aonde descobri mais tr�s jovens que estavam de viagem marcada para o Iraque lutar contra a guerra. Contei a eles como me inscrevi, juntei meu dinheiro e estava pronto para viajar e passar ao menos seis meses no Iraque. Seria o tempo ideal para fazer minha parte, sem destruir meus planos junto com a faculdade. No dia de minha partida eu estava apavorado, Ainda n�o sabia exatamente o que estava fazendo, era tudo muito r�pido. Mas reuni minha coragem e horas depois descia do avi�o, j� em Bagd�. As coisas n�o foram como eu esperava, n�o havia aquela anarquia normalmente vista nos revolucion�rios. Havia toda uma movimenta��o dos �escudos humanos� com supervis�o de um grupo forte montado para nos coordenar. Determinaram nossas localiza��es e fui separado dos outros tr�s brasileiros logo no in�cio. Fui enviado para protestar e proteger um grande hospital infantil, alvo dos americanos por causa da grande quantidade de suprimentos medicinais que guardava. Ao me apresentarem o grupo, conheci Anne, uma bela francesa, cujos olhos e l�bios fizeram-me sentir tonto, esquecer de toda a guerra por alguns instantes e apenas balbuciar uns poucos cumprimentos de meu franc�s, t�o bem estudado no Brasil. Ap�s esse primeiro contato, j� tivemos uma liga��o forte, e passamos muito tempo junto. Perdi o medo e dominei meu franc�s, ajudado pelo portugu�s b�sico de Anne, pois estudara a l�ngua alimentando seu sonho de conhecer o Brasil. Em pouco tempo nos apaixonamos e , um m�s depois, come�amos a namorar. A guerra explodia ao nosso redor, e com o medo sendo reafirmado a todo instante, e nossas revoltas batendo de frente com o ex�rcito americano, n�o faz�amos planos para o futuro, apenas viv�amos cada dia na esperan�a da guerra terminar. Assim se passaram seis meses. Com a derrubada do governo iraquiano, fomos liberados de nossas fun��es e mandados de volta para a casa. Eu precisava retomar a faculdade, ent�o voltaria para o Brasil. Anne queria visitar sua fam�lia na Fran�a, e tem�amos nunca mais nos encontrarmos. Antes de nossa separa��o, conversei com Anne e declarei a ela tudo o que sentia, o que planejava para o nosso futuro. Pedi a Anne para que casasse comigo, e viesse para o Brasil. Anne aceitou e partimos para casa na manh� seguinte. Decidimos que nos casar�amos um ano depois, tempo suficiente para que eu me formasse e retomasse meu emprego como rep�rter, de onde havia me afastado por causa da guerra. No Brasil, nossa vida era como um conto de fadas. Todas as manh�s eu acordava com o riso doce e f�cil de Anne, que se apaixonara pelo Rio de Janeiro. �ramos felizes em cada �eu te amo� sussurrado em seu sotaque franc�s, cada caminhada na praia, cada p�r do sol. Nos am�vamos e nada poderia nos separar. At� que Anne recebeu um telefonema de sua fam�lia na Fran�a. Seu pai estava doente, em seu leito de morte, e pedira para ver a filha uma �ltima vez. Anne precisava voltar � Fran�a, mas eu sabia que se isso acontecesse nunca mais nos ver�amos. Eu n�o quis deix�-la ir, n�o pod�amos nos separar naquela hora. N�s brigamos muito, ambos choramos e falamos coisas que nunca deveriam ter sido ditas e Anne se foi. Fiquei sozinho e com o sentimento de que ela nunca mais iria voltar. Meses se passaram e eu n�o tive not�cias de Anne. Dediquei todo meu tempo aos estudos e trabalho. O fim do ano chegou e me formei com louvor na melhor faculdade do Rio de Janeiro. N�o demorou para que surgissem novas propostas de emprego e em menos de um ano j� me destacava na reportagem de uma das maiores equipes de jornalismo do pa�s. As mudan�as ocorriam de forma igualmente bruscas no cen�rio pol�tico mundial e uma nova guerra eclodiu no Iraque. Em uma nova investida, os EUA tentavam novamente tomar posse definitiva do pa�s. A guerra matava cada vez mais inocentes e tornava-se imposs�vel aceita-la sem agir. Logo me escalei para a cobertura da guerra, e fui aceito pela bravura na equipe de cobertura dos acontecimentos no Iraque. Ap�s quase dois anos eu estava novamente em meio � guerra. A situa��o era cr�tica entre o ex�rcito americano e o povo iraquiano, apoiado com unhas e dentes por escudos humanos de todas as partes do mundo. Durante um conflito, jovens distribu�am rosas entre soldados americanos e protestavam em frente �s armas, o que rendeu �timas imagens de minha equipe, e uma severa repreens�o por parte dos soldados. Muitos discutiam ferozmente e n�o demorou para que os protestos tomassem forma f�sica. Em algum lugar uma movimenta��o exagerada me chamou a aten��o, e vi que uma mulher discutia com um soldado, que mantinha seu rifle apontado para o peito da jovem. Por sobre os ombros do soldado, que estava de costas para mim, reconheci o brilho daqueles olhos e o rosto delicado de Anne, agora transfigurada pela raiva e pelas vestes sujas e rasgadas. Gritei seu nome e corri em sua dire��o. Ao me ver, Anne transformou-se em sorrisos e, virando-se para mim, colocou a m�o dentro de seu casaco para apanhar alguma coisa. O baque surdo ecoou pelos c�us e o grito das pessoas tomou conta do lugar enquanto o corpo de Anne ca�a no ch�o, sem resist�ncia. Corri em sua dire��o e abracei seu corpo ainda com vida. Puxei sua m�o e vi que havia pegado uma rosa dentro de seu casaco, e n�o uma arma como o jovem soldado havia pensado. Ela levantou sua cabe�a com dificuldade, olhou em meus olhos, cheios de l�grimas, e me disse aos solu�os: - Sabia que voc� viria me encontrar aqui. Assim Anne morreu em meus bra�os. Beijei uma �ltima vez seus doces l�bios, ainda quentes, por�m j� sem vida, sentindo que o tiro do soldado, na verdade quem dera fui eu. E naquela tarde, para mim, a guerra j� havia terminado. F�bio Ricardo � 04/02/04 |
Fábio Ricardo |
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Fábio Ricardo
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